Mudar a cultura da organização de um negócio ‘é condição prioritária’, diz Dora Kaufman

As inovações da digitalização, interconectividade e novas tecnologias de produção, distribuição e marketing de vendas têm oferecido infinitas possibilidades e oportunidades de crescimento às empresas, tanto no Brasil quanto no restante do mundo.

Na opinião da economista Dora Kaufman, consultora do Sebrae Rio e palestrante referência no Brasil em pesquisas e aplicações de tecnologias para os negócios, “os benefícios mais explícitos [da transformação digital] são o aumento da eficiência operacional, redução de custos, flexibilização das linhas de produção, encurtamento dos prazos de lançamento de produtos, criação de produtos e serviços digitais e novos modelos de negócio”.

Em artigo pulicado no site do Sebrae, ela ressalta que essa transformação, no entanto, não deve ser encarada apenas como agenda de TI (Tecnologia da Informação).

“Para que essas novas tecnologias gerem valor real é preciso transformar o negócio, repensando as ações e integrando o digital no ‘core’ do funcionamento da empresa. Seus resultados dependem de mudanças na estrutura organizacional, nos processos e na cultura”, analisa a especialista, que também é precursora em pesquisas dos impactos sociais da Inteligência Artificial (IA) no País.

Indústria 4.0

Pesquisas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam que, nos últimos anos, houve um aumento significativo no número de empresas brasileiras que utilizam tecnologias digitais, ou seja, estão inseridas no universo da “Indústria 4.0”, ainda que em estágio inicial.

“Entre 2016 e 2018, o percentual das grandes empresas que utilizam, pelo menos, uma das tecnologias digitais passou de 63% para 73%, priorizando a eficiência do processo de produção e a gestão do negócio”, informa a especialista.

Para ela, no entanto, “ainda é tímido o foco na inovação de produtos/serviços e modelos de negócio”.

“Como barreiras, as empresas citam em ordem de prioridade: falta de trabalhador qualificado, estrutura de telecomunicações do País insuficiente, ausência de linhas de financiamento, arcabouço regulatório inadequado e alto custo de implantação.”

Dica de especialista

Dora Kaufman ainda menciona outro dado importante, publicado pela Revista Forbes: 84% dos projetos de transformação digital fracassam pela falta de visão holística. Por essa razão, ela salienta – “como fator de sucesso por estudos internacionais” – a necessidade de haver o envolvimento direto dos principais gestores (CEO/presidente, diretoria, entre outros cargos de liderança da empresa).

Ela recomenda, nesse sentido, a definição de um núcleo de funcionários – o qual denomina como “equipe de transformação” – para liderar esse processo, “privilegiando, além da estrutura e da cultura organizacional, o desenvolvimento de ecossistemas”.

“A privacidade e a segurança dos dados têm de estar em adequação com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD ou LGPDP) – * Lei nº 13.709/ 2018”, alerta Dora Kaufman.

* Prevista para entrar em vigor a partir de 27 de agosto deste ano, até o fechamento desta matéria pela equipe de OSeuGestor, o governo federal havia sinalizado a intenção de prorrogar a data para 3 de maio de 2021.

Mudança na cultura da organização

Na visão da economista, “mudar a cultura da organização é condição prioritária e, em geral, a mais difícil porque envolve pessoas”.

“Para facilitar a transição, convém redesenhar o local de trabalho, integrando a arquitetura física, os processos, os equipamentos, os dispositivos e os funcionários.”

Dora Kaufman destaca alguns fatores a serem levados em conta, tais como: avaliar o grau de envolvimento dos funcionários uns com os outros, com as partes interessadas e os clientes, com informações, conhecimento e ideias; oferecer soluções de tecnologia (videoconferência, telefones celulares, robótica e IoT/Internet das Coisas) na localização e conexão em qualquer lugar, a qualquer momento.

Também sugere criar plataformas de mídias sociais para engajar os funcionários, acelerar o trabalho colaborativo e apoiar a “ideação” (formação de novas ideias), tanto interna quanto externamente, além de projetar espaços físicos inspiradores, abertos e flexíveis.

“A educação e o treinamento da força de trabalho é prioridade absoluta. As competências e as habilidades internas determinam o ritmo, a extensão, a profundidade e os resultados”, aponta.

Como começar

Dora Kaufman orienta empreendedores a começarem as mudanças, que envolvem a transformação digital, por projetos pilotos, experimentando os impactos, acertos e erros, e expandindo para outras áreas ou disseminando desde o início por toda a empresa.

Esse “caminho passa por romper com funções e processos estabelecidos; mudar a mentalidade corporativa da inovação centrada no produto, para a inovação centrada no cliente; agregar e estabelecer colaboração entre funções e todos os níveis de gerenciamento; e motivar e inspirar continuamente o compromisso da alta administração com metas abrangentes, apoiada pelo diálogo permanente entre as equipes de negócios e de tecnologia (TI)”.

Na visão da economista, todo o processo de transformação digital dos negócios – sejam eles de qualquer porte – “precisa ser reavaliado continuamente e, como em qualquer investimento, com base em indicadores de avaliação”.

“Os desafios são muitos e custosos, particularmente na conjuntura atual do Brasil, mas a alternativa é ser eliminado pela concorrência de empresas inovadoras e/ou por startups”, alerta Dora Kaufman.

Saiba mais

A economista Dora Kaufman acumula um currículo bem extenso: é professora do Programa de Pós-graduação Tecnologias da Inteligência e Design Digital da Faculdade de Ciências Exatas da PUC/SP; pós-doutora pela COPPE-UFRJ e TIDD PUCSP; e pós-doutoranda em Filosofia pela USP. Também é doutora pela ECA-USP com período na Université Paris – Sorbonne IV.

É coautora do livro “Empresas e Consumidores em Rede: um Estudo das Práticas Colaborativas no Brasil” e autora dos livros “O despertar de Gulliver: os desafios das empresas nas redes digitais”, e “A inteligência artificial irá suplantar a inteligência humana?”.

Também é professora convidada da Fundação Dom Cabral (FDC) e colunista da Época Negócios. Suas áreas de interesse incluem os impactos sociais da inteligência artificial (IA) inserida na economia, modelos de negócio, mercado de trabalho, comunicação, sociabilidade e ética.

Fonte: Sebrae com edição da equipe de comunicação de OSeuGestor

https://sebraeinteligenciasetorial.com.br/produtos/noticias-de-impacto/transformacao-digital/5f3d82eb6f485f1a00f1c680

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